Dengo Chocolates

São Paulo, 2020

Processos

Dengo Chocolates

Nosso primeiro contato com a Dengo Chocolates foi há 3 anos, quando fomos chamados a projetar uma série de estações de cacau - estruturas para abrigo dos ditos cochos, onde acontece a fermentação do cacau - em uma fazenda no sul da Bahia. O estudo tanto do processo de fabricação dos chocolates como da identidade e dos valores da marca levaram-nos, à época, quase que naturalmente ao desenho de construções muito singelas - com proveito de técnicas tradicionais, além de material e mão-de-obra locais - a resultar unidades não só eficientes e sustentáveis, mas também perfeitamente integradas ao ambiente em que se inseriam. Passados alguns anos, a Dengo apresentou-nos um novo desafio: uma fábrica de chocolates que fosse aberta à visitação pública, em São Paulo. Um a um, fomos elegendo os materiais e elementos a compor o projeto, sem perder de vista a identidade da marca, a sustentabilidade da construção, as características do terreno e seu entorno, e a funcionalidade dos espaços. À medida que a construção avançava e os espaços se materializavam, porém, o cliente ajustava seus planos de negócios e afinal a idéia de fábrica visitável deu lugar a de um espaço multiuso a comportar loja, café, serviço de personalização, salão para eventos e biblioteca sobre cacau. A mudança radical no programa obrigou-nos a extensos ajustes no projeto, mas o espírito fabril se manteve de alguma maneira presente por toda a loja: na simplicidade da estrutura – modular e aparente, composta de pilares, vigas e lajes em peças inteiriças de madeira laminada cruzada, produzidas em fábrica e apenas montadas no local em um trabalho de execução rápida, precisa e de pouquíssimo resíduo; nas instalações elétricas, hidráulicas e de ar-condicionado, que correm igualmente à vista; na total integração e fluidez dos espaços, que se fizeram possíveis graças à ausência de paredes e à criação de vazios de variados pés-direitos; e na existência ainda de uma réplica das instalações de uma fábrica de chocolates à antiga, com torrefadoras e dutos que transportam os nibs de cacau até uma enorme mélanger no centro da loja. Fábrica ou loja, fato é que o projeto resulta fundalmentalmente de um conjunto de determinantes para além das especificidades de um programa. A madeira, por exemplo, foi de pronto escolhida o material-chave da construção por sua característica renovável e sustentável. Já o sistema construtivo, o chamado CLT (Cross Laminated Timber), foi resultado de uma longa pesquisa e de inúmeras consultas técnicas – e não poderia ser diferente, dado que incorpora ao mesmo tempo o esqueleto e a alma do edifício. Por último pode-se dizer que, ainda que em dimensão subjetiva e talvez até subliminar, o cacau foi a inspiração para tudo - revela-se nas cores, nas texturas, na paleta de materiais e até na iluminação de tom rebaixado, que remete à sombra da cabruca onde crescem os cacaueiros.